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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Jogo de sedução


O jogo já havia começado, quando entrei por aquela porta: chapéu Panamá, cigarro fino nos dedos, copo de Jonnie Black.. uma indumentária escolhida meticulosamente para impressionar,  queria chamar a atenção e consegui. Os olhares todos se voltaram em minha direção. As apostas eram altas. Uma tensão absurda tomava conta do ambiente, aumentando minha ansiedade e a minha vontade de entrar naquele jogo. Quando me sentei diante daquele feltro verde logo me deparei com um par de esmeraldas que me ofuscaram: nem tanto pela intensidade do seu brilho, muito mais pela profundidade com que me fitava. Sabia perfeitamente dos riscos que corria, mas estava disposto a enfrentá-los: confesso, tive uma ponta de medo. Mas a vontade de ganhar era muito maior, incontrolável. Comecei só sentindo a mesa, estudando cada movimento, cada expressão dos meus oponentes. Entre os olhares que se cruzavam, logo percebi que nem todos ali estavam jogando pra valer. Mas havia uma apostadora que levava a coisa a sério. Não estava lá para brincadeiras.  Não era a toa que quase não se via suas mãos escondidas atrás da montanha de fichas que já havia amealhado. Entrei no jogo com vontade de desafiá-la, os outros, pouco me importavam: eram meros coadjuvantes. O jogo se desenrolava exatamente como havia suposto: ela continuava ganhando. Sabia como fazer a coisa. Recuava na hora certa e apostava alto quando tinha absoluta certeza do final. Estava convencido que não era só sorte. Impossível que ela contemple apenas um dos jogadores. Até que numa dessas rodadas pedi minhas cartas e filando-as uma a uma, bem devagar, me maravilhei com o que vi. Um daqueles jogos que só aparecem uma vez na vida. Tinha que conter minha euforia. Segurar meu fôlego, discretamente, para não levantar suspeitas nos meus oponentes. Algo muito difícil com o jogo daqueles. Minha única torcida era que ela também tivesse boas cartas nas mãos para não correr do jogo e me enfrentar cara a cara. E assim se deu: Não sabia se blefava ou se realmente tinha um jogo melhor que o meu. Apostei tudo o tinha na convicção de derrotá-la e passar a mão naquele monte de fichas coloridas. Mas como boa jogadora, me surpreendeu mais uma vez: fuzilando-me com aquelas esmeraldas, dobrou a aposta na certeza do meu recuo. Cheguei a pensar que seu jogo fosse realmente melhor que o meu.
Bateu uma insegurança, subiu um calor, suei frio diante de tudo o que estava envolvido. Mas não podia mais voltar atrás. Aquela era a rodada derradeira, a decisiva. Olhei fixo nos seus olhos e pedi que mostrasse seu jogo. Estava pagando pra ver. Foi o único momento em que vi medo em seu olhar. Sem perder a classe, ela delicadamente abaixou suas cartas e sorriu. Antes de mostrar meu jogo, parei por um segundo pra desfrutar da cena que me encantava. Um sorriso. Um olhar. Um momento.
O final? Do que importa? Eu já havia conquistado o que mais queria. As cartas, os outros, o cenário..era tudo detalhe. Só importava o que um queria do outro. Se eu ou ela ganhamos? Tanto faz... iríamos gastar todo o dinheiro juntos.

2 comentários:

Maria Dias disse...

uau!A dupla perfeita para um crime...Muito sedutor o seu jogo com as palavras parabéns!

Boa Páscoa!

Maria

Célia Ramos disse...

Jogo mais interessante, né? rsrs
Como sempre, um jogo de palavras muito bem marcado! Virei fã..não tenho mais saída! rsrs...Parabéns!